terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

sísifo


recomeça...
se puderes,
sem angústia e sem pressa.
e os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro,
dá-os em liberdade.
enquanto não alcances
não descanses.
de nenhum fruto queiras só metade.

e, nunca saciado,
vai colhendo
ilusões sucessivas no pomar
e vendo
acordado,
o logro da aventura.
és homem, não te esqueças!
só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças.


Miguel Torga

domingo, 24 de fevereiro de 2008

estou losango!


"- Como estás?
é uma bela questão. Normalmente respondo
- Sei lá
porque não gosto de mentir. E sei lá de facto. Umas vezes estou redondo, outras quadrado, outras cheio de picos, outras liquefeito, outras não estou sequer: deslizo por aí armado em nuvem.
- Como estás?
e é impossível responder
- Deslizo por aí armado em nuvem

(...)

Se me interrogarem
- Como estás?
explico que não estou redondo nem quadrado. Neste momento acho-me mais uma espécie de losango.
- Estou losango
quem interroga a olhar para mim sem entender:
- Losango?
e eu
- Sim, losango, nunca te sentiste losango?
Nunca se devem ter sentido losangos. Há alturas em que me acontece pensar que as pessoas são esquisitas mas deve ser problema meu. Aposto o que quiserem que é problema meu. "



António Lobo Antunes

ausência


ausência? a dor de estar longe... longe daqueles que foram de repente invadidos por uma outra ausência ainda maior, e que são muitos!
e estar longe: um longe-perto que permite um regresso, mas ao mesmo tempo um longe-distante que não permite que aquilo que se diga tenha o mesmo valor de qualquer presença, mesmo que silenciosa!
aos que estão a aprender da maneira mais dura, aos que são obrigados a suportar a dor da ausência, aos que estão a ser invadidos pelo medo e receio...... são tantos! até parece mentira!! - a minha admiração.
nunca me esqueço de vós. nunca.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

sempre... para sempre


há amor amigo, amor rebelde,
amor antigo, amor de pele.
há amor tão longe, amor distante,
amor de olhos, amor de amante.
há amor de inverno, amor de verão,
amor que rouba como um ladrão.
há amor passageiro, amor não amado,
amor que aparece, amor descartado.
há amor despido, amor ausente,
amor de corpo e sangue, bem quente.
há amor adulto, amor pensado,
amor sem insulto, mas nunca, nunca tocado.
há amor secreto, de cheiro intenso,
amor tão próximo, amor de incenso.
há amor que mata, amor que mente,
amor que nada, mas nada te faz contente, me faz contente.
há amor tão fraco, amor não assumido,
amor de quarto que faz sentido.
há amor eterno, sem nunca, talvez,
amor tão certo que acaba de vez.
há amor de certezas que não trará dor,
amor que afinal é amor, sem amor.
o amor é tudo, tudo isto
e nada disto para tanta gente
é acabar de maneira igual
e recomeçar um amor diferente
sempre, para sempre
para sempre...



sempre para sempre, Donna Maria

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

só tu


de todos que me beijaram
de todos que me abraçaram,
já não me lembro, nem sei!
são tantos os que me amaram,
são tantos os que amei!

mas tu (que rude contraste),
tu - que jamais me beijaste,
tu - que jamais abracei,
só tu nesta alma ficaste
de todos os que amei!



ad. Paulo Setúbal

sábado, 16 de fevereiro de 2008

oração


meu Deus,
esta é a minha oração:

fere,
fere a raíz da miséria
no meu coração

dá-me força
para levar facilmente
as minhas alegrias
e os meus pesares

dá-me força para que o meu amor
produza frutos úteis

dá-me força
para nunca renegar do pobre
ou dobrar o joelho
ao poder insolente

dá-me força
para levantar o meu pensamento
sobre a mesquinhez quotidiana.

dá-me força, por fim
para, apaixonado, render a minha força
à tua vontade.


Rabindranath Tagore

esquecimento


"se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarido.", rio Quintana

há amores assim



há amores assim
que nunca têm início
muito menos têm fim
na esquina de uma rua
ou num banco de jardim
quando menos esperamos
há amores assim

não demores tanto assim
enquanto espero o céu azul
cai a chuva sobre mim
não me importo com mais nada
se és direito ou o avesso
se tu fores o meu final
eu serei o teu começo

não vou ganhar
nem perder
nem me lamentar
estou pronta a saltar
de cabeça contra o mar

não vou medir
nem julgar
eu quero arriscar
tenho encontro marcado
sem tempo nem lugar

je t’aime j’adore
um amor nunca se escolhe
mas sei que vais reparar em mim
yo te quiero tanto
e converso com o meu santo
eu rezo e até peço em latim

quando te encontrar sei que tudo se iluminará
reconhecerei em ti meu amor, a minha eternidade
é que na verdade a saudade já me invade
mesmo antes de te alcançar
é a sede que me mata
ao sentir o rio abraçar o mar

sem lágrima caída
sou dona da minha vida
sem nada mais nada
de bem com a vida



há amores assim, Donna Maria

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

hoje

hoje deves parar.
talvez o mundo já corra demais.
hoje deves ouvir.
talvez interesse a opinião dos outros.

hoje deves olhar.
talvez haja alguma novidade fora de ti.

hoje deves dar.
talvez o que te sobra falte a alguém.

hoje deves falar.
talvez tenhas alguma boa nova a dizer.

hoje deves rezar.
talvez tenhas necessidade de um Pai.

hoje deves pensar.
talvez te seja útil um auto-retrato.

hoje deves cantar.
talvez a alegria te encurte o caminho.

hoje deves comungar.
talvez tenhas um sonho a partilhar.

hoje deves receber.
talvez o outro precise de amar.

hoje deves caminhar.
talvez te encontres com alguém na vida.

hoje deves sorrir.
talvez alguma flor esteja a precisar de sol.

hoje deves começar.
talvez amanhã seja tarde.

hoje deves renascer.
talvez tenhas nascido apenas.

para os amigos:




sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das esperas dos fins de semana, dos fins de ano, enfim... do companheirismo vivido.
sempre pensei que as amizades continuassem para sempre...
hoje não tenho mais tanta certeza disso!
em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
podemos falar ao telemóvel e dizer algumas tolices...
mas, vão-se passar dias, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
vamo-nos perder no tempo....
um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão:
"quem são aquelas pessoas?"
diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto!
"foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!"
a saudade vai apertar bem dentro do peito.
vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
e, entre lágrimas abraçar-nos-emos.
então faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante.
por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
e perder-nos-emos no tempo.....
por isso, fica aqui um pedido: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...





"tornas-te eternamente responsável por aquele que cativas.", Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

pessoas inesquecíveis...


(encosta-te a mim - Jorge Palma)


"o valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis" – Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Marta

Marta não quer chorar
guarda nela sem ter razão
as negras ondas do mar
tentem ver no cordão
que vos une à razão
quão pior é morrer devagar

Marta não quer chorar
mas seus olhos vertem a dor
de morrer para não matar
é que a vida são
canções de épicos refrões
que farão o mar fluir
só que um dia vão ter de acabar

esta é só mais uma canção
não lhe fiz um refrão
porque Marta já está a chorar


Ornatos Violeta